Por mais que eu fale, eu não consigo emitir sons. As minhas palavras não fazem parte do dicionário original ou o dicionário do cotidiano, e, as minhas frases que são compostas por essas palavras se tornam códigos indecifráveis. Mesmo os diálogos que são a harmonia da diversidade da fala, se tornam comuns demais diante a minha e assim, acabam por criar barreiras sonoras para meus “dizeres”.
As vibrações de minhas cordas vocais criam melodias enigmáticas demais, e acabam por serem classificadas como nostálgica ou pura e simplesmente sendo ignoradas. Levando assim, cerca de uma dúzia de músculos da laringe entrarem em conflitos existenciais e tornando a língua, os dentes e os lábios meros instrumentos desafinados. É criada em mim uma “gagueira mental” que constantemente e cada vez mais intensamente impõe obstáculos aos meus brônquios e gradativamente confisca meu ar retirando assim as letras de minhas palavras.
O que eu digo parece mergulhar no vazio... no vazio das pessoas... ou melhor ...desvendar esse território que é escondido por elas mesmas. Na verdade ninguém se interessa em conhecê-lo, elas fingem serem completas e fortes e que estão imensamente satisfeitas com o cotidiano, satirizam tudo o que é diferente, viram as costas para a verdade para o seu próprio presente. São esses atos que se transformam em tijolos para a construção das tais barreiras que me remetem a um silêncio ensurdecedor. Dizem que barreiras são para serem quebradas, mas por outro lado, barreiras quebradas também não são para serem repostas?! Esse Ciclo parece desafiador, mas em contrapartida torna-se um ciclo exaustivo, que devasta de maneira dissonante a escrita de minhas partituras intelectuais. E, por mais que eu troque meus encordoamentos, eu não me enquadro nas afinações do mundo ao redor, tal engajamento seria necessário que eu fizesse uma derivação regressiva de meus pensamentos, abandonasse minhas composições, encurtasse minhas sinfonias e esquecesse as duas “coisas” que realmente me fazem sentir vivo: meu eu interior e meus pensamentos.
È fato que o tempo sara as coisas, mas demonstram muitas outras sem previsões de cura. Quanto mais ideais são considerados irrelevantes perante a sociedade, mas meu córtex cerebral é abastecido por massa cinzenta regada com minhas idéias que regem com total relevância os movimentos do meu corpo ele por sua vez torna-se maestro da árdua tarefa de facilitar a minha comunicação com tudo mais que está em minha volta. Tudo mais que incluem objetos, o trânsito, o trabalho, a poeira, a exclusão, resumindo, a obra dos humanos seres (lembrando que nem sempre essa recíproca é verdadeira).
Talvez as hipotecas dos lotes na Área de Wernicke estejam superfaturadas e eu ainda estou em processo de negociação da compra, ou na verdade sou um dos poucos no mundo (fora de cogitação em ser o único) que a conhecem e fazem questão de construir e reformar nossos edifícios nesse dia-a-dia inglório. Inglório, pois por maiores que sejam nossas glórias elas não se tornam grandiosas o suficiente para mover uma molécula de arrogância dos invejosos arrogantes, essa “espécie” que é extremamente predatória. Bem, essa pode ser a minha provável sina, pois, acredito que todos tenham uma missão e todos tenham uma sina, sem esoterismos, minha missão: enxergar a verdade; minha sina: não ser ouvido. Demorei a perceber realmente qual era minha missão aqui, já que minha sina praticamente anula quaisquer tipos de “heroísmos coletivos”. Porém, minha missão faz parte de uma luta bárbara entre meu eu interior e meu protecionismo egocêntrico: será realmente que eu nasci neste mundo somente para saber a verdade sem poder compartilhar com os outros? Minha missão é tão pequena a tal ponto que irei levá-la ao túmulo e ninguém reconhecerá a sua descoberta feita por mim? Enxergar a verdade somente isso que eu me dedicarei diariamente?
Perguntas... Foi então que percebi que minha vida não se baseia em perguntas e sim em respostas. Quantos buscam respostas ao longo de sua vida e no leito de sua morte o que resta são mais incógnitas. Percebi que possuía o dom de lidar com as respostas, e essa era minha arma crucial na hora de enxergar a verdade. A minha missão é considerada faraônica, pois por mais que você queira a verdade o ”meio“ lhe mostra uma alternativa, a verdade deles, e acreditem, todos caem, pois o “meio” comprovadamente corrompe.
Eis que surge para mim a minha verdade, a única verdade que eu ainda não compreendera. Aquela que age como ponto de ebulição do meu sangue, faz borbulhar minhas células, causa erupção nas minhas artérias ajusta completamente meu aparente aparelho circulatório. Nitidamente percebo que o abismo em que agora me encontro é sinônimo da imensidão do conteúdo que possuo!